hoje um presente do sul que partilho


Soltou-se o brilho das estrelas do olhar
Agarrado ao cheiro que te saía das mãos
Trouxeste-me  a terra em forma de fruto
Saudade amarrada à distância dum tempo
Que trago no peito em forma de concha
amaciado num cuidado de doces lembranças

Aqui me encontro deleitada
Quase em estado de contemplação
Sustenho-me no tempo e me conforto
Entre o odor forte e adocicado feito peito redondo e duro
E a maciez do interior, ventre d’alma generosa
Espessas  águas, caldo morno,
Vísceras de agridoce sabor que me agarra ao rubro quente
Do meu fado, vida, espaço, colo, útero de mim feito

Vinha abraçado aos irmãos um já despido do corpo
Que exaltava o característico dum mais comum feito diferente
E outro ainda dentro do casulo, a adivinhar o festim doce acre
De rebentar os lábios num torpor dolente de adoçar o coração

Ambos relicários do tempo,  assim mos trouxeste
E estendeste-me a rede do tempo que me torna 
inteira


1 comentário:

O Profeta disse...

Este pensador, viageiro entre Sois
Esta Ave pousada em mil embarcações
Este barco que passa sem vela ou remo
Esta arca repleta de vibrantes emoções

Esta mestiça flor de açafrão
Este ramo de espinhos cravados na mão
Esta alma que não ousa largar opinião
Este homem vestido de solidão

Ouvi um som profundo e breve
Vindo de uma perdida lembrança
Toquei de leve os trincos da memória
E senti o golpe frio de uma afiada lança

Boa semana


Doce beijo