Co(a)ntos de olhar


 
Meus olhos estão mudos devíeis ver
num tempo que é tempo, de luto, cegueira vestida
amarras, cortina, anónimos vultos e deserto saber
É tempo de choro de raiva de luta, investida
contida promessa de acontecer

E em vão, se passeiam meus olhos cinzentos
que teimam lamber os recantos vazios sem nada dizer
Percorrem calados caminhos despidos buscando alimentos
De cores de alento perfumes de força e sonatas de fé
 
Num acordo se acordam, no acorde de acordo com tempo
De novo compasso de esperança, de pausa e espera dum acontecer
E prometem que é hora de luta, de força e coragem, o momento
Da toada calada, investida incontida, e a promessa de amanhecer

Então se levantam e se apontam adiante enfrentado o vilão
Engolem o cerco e cospem algozes meus olhos sedentos
Se vêem capazes vorazes e empunham vibrantes a espada na mão
e  lambem as cinzas amargas e espalham unguentos
nas vestes que vestem os sulcos de pele que forram o chão
E enfim derrubam o muro devoram o espaço e abraçam a multidão

E agora não calam e agora já falam e me dizem que não
E cantam o acorde de acordo com o tempo de novo viver
É tempo de luta, de festa em promessa de acontecer