páginas em branco

Escrevo páginas brancas, tantas, de dores e vitórias
Inscrevo recados tratados e formas de tudo mais
Procuro o sabor e a lembrança de todas as histórias
E guardo segredos, temperos e cheiros de gozo e de ais

E o espaço liso como de ventre sem vida estivesse
De espaços em branco vestido para quem olha
Esconde um colo repleto e prenhe como se quisesse
Invadir de surpresa o palco zombando sem escolha

Não se ruborizem faces
Não se incendeiem vestes
Não se inflamem hinos
Não se envergonhem fraques
Não se dobrem sinos
Não se curvem craques

Quando ao acender a vela o ácido citrino atear a vida
E os cadernos brancos inchados de verbo
Falarem de toda a comenda guardada e mantida
No claustro dourado de sonho de um servo

Em páginas brancas repletas de soro acidolante
Ante a chama ardente da fonte de luz ondulante