porto igual a si mesmo


Não será demais repetir
que gosto deste teu porto
que faço porto de abrigo
que me apura os sentidos
e renova o paladar

este porto que respira
que liberta do seu corpo 
a harmonia da paleta
bouquet aberto sem decoro
sorvos que se bebem e respiram
se tragam e que persistem
em passo curto ou prolongado,
buscando o aveludado
o equilíbrio, a acidez,
num corpo leve, médio ou pesado,
cedendo à pura altivez
da doçura dum seco ou doce
dum sabor intenso ou fraco,
de um frutado, ou de um floral.

torrente de rio, mar aberto,
profusão de pálidos,
intensos, profundos, 
apagados, brilhantes
orgia tons de tintos, vermelhos, 
rubis, violáceos, roxos, telha... 
brancos, amarelo pálido, 
esverdeado, âmbar, dourado
a sobressair os aromas
a apurar o paladar
a harmonia, fruta intensidade, madeira, maturação.
maturado, velho intenso, 
fruto carne, madeira forte
despido com o olhar
inalado com os sentidos
e apurado paladar

dourado frutado, tons de pêssego, 
damasco, maçã, frutas vermelhas
framboesa ou ameixa, amêndoas...
timbre tons de amadeirado
delicadas notas de baunilha, 
carvalho, defumado...
caramelizado em toques de mel, 
manteiga, caramelo, delírios florais

deste porto sentido
deste porto consentido
deste porto com gente dentro
igual a si mesmo
com cores roubadas ao quadro
puxadas detrás do véu da névoa
mistério que se adivinha
e serve de manto macio que me alonga os dias 
desperta os meus sentidos
e me prolonga o prazer

sim, gosto,
deste teu porto
igual a si mesmo
igual a ti mesmo