Vou sossegar

Vou tirar esta música pesada que me aperta a garganta
E deixar-me levar pela canção de embalar que me aconchega
no ninho do teu ombro onde me quero abandonar
Vou tirar esta música pesada que me sufoca o peito
E deixar-me ficar na nuvem do sonho doce de ti e adormecer
Sorvo a saudade de ti que me pesa encorpada aveludada e quente
E espero o sopro da brisa da presença do teu olhar que me apazigua
Tenho saudades, tenho saudades de ti meu pai
Vem e embala o meu coração para eu poder adormecer
Gostei de te sentir presente
Gostei do que senti
Soube que senti sempre
Sei que sentirei eternamente

As unicas palavras importantes
foram as que não dissemos
mas que adivinhamos

Acorrentamos os braços
Lacramos os lábios
Gritaram os olhos
e os corações aos pedaços

(da tua voz)16-03 | jss

palavras de silencio

Não tardaste em aparecer sob um pretexto qualquer
e trazias os teus olhos rasos de dizer
Inundados de páginas inteiras de recados que transbordavam da cabeça
E das nossas bocas mudas, apenas as palavras que contavam as coisas importantes tornadas agora banais,
que já não conseguíamos ouvir
Abafadas pelo grito das que nos saiam do peito num soluço sufocado, aos borbotões
Assim mesmo sem querer.
Apenas uns breves instantes de ti para tomares de novo o meu espaço de sonho
Tantas palavras de silêncio

A Nau Violeta

Lá vem a nau violeta bem a tempo de contar,
Ouvi meus caros senhores esta trova de pasmar.

Ir então ao prestamista, prestigiado senhor
Não era, não querer dizer, de longe o viver a grego
Era sim, bem de verdade, pôr mesmo no Sr. Prego
Porque nos meados de dezanove, havia um benfeitor
Dono de todas as casas, ou ditos lugares de penhor
Onde iam todas as gentes, que queriam viver melhor

Na nova trip(b)ulação, num tempo de vinte e uns
Muitos em busca do Prego, ou outros e mais alguns
Viram ufanos chegar, a nova era afinal
Achando-se assim por dizer, agora de novo e igual
De volta em tempo real, ao tempo dos dezanove
Tudo na mesma afinal, tirando a prova dos nove

Em sinal de aflição, não tardaram em conceber
Agora pintadas de novo, outras tantas filosofias,
Mil e uma fantasias, requintes e ideologias
Fintas, jogos, tropelias, só para sobreviver

Apesar do desconforto, já sem mais imaginação
Pra não correr ao prestamista, ante tal condição
Achando-se gente de bem, e a não ter que mal parecer,
Com novas tecnologias, não iriam padecer
Eis que chegam então, à brilhante conclusão

Publicam um anúncio e clicam no botão

Outros tantos n(a) (des)ventura que procuram a solução
Cruzam também este caminho em torno da mesma razão
Esticar o orçamento numa busca bem malfadada
É a nova aventura, desta dit(os)a dura encruzilhada

E clicam também no botão

Porque apenas e só resta, o corpo para alimentar
Encontram-se assim por dizer,
Todos, na mesma ceia a comer
Literalmente, o sofá, a cama, a televisão e a mesa de jantar
Apenas para poder esticar o orçamento familiar
Pois é preciso salvar o corpo para trabalhar

É então que dão as mãos em torno da mesma razão
E ao velho novo prestamista, dizem não
Na busca da solução

É tempo de não empardecer

Quero-te só recordar, num tempo de tantas penas
Que ao veres-te grego, não o querendo ser
E mesmo sem ser em Atenas
Foges e mostras aquilo, que afinal queres esconder

Tu que vives consciente no Carnaval de disfarces
Vês-te apenas sem saída ou outros desenlaces
Na figura que não queres ver, nesta era que criaste

E na nova ordem sonhada
Pros teus filhos ver crescer
E por tantos trabalhada,
Senão numa outra compostura
Vais-te ver empardecer
Sob o peso da dita dura
Uma dita pesada a valer

E a aprender embriagado no Carnaval de disfarces
A arte de te esconder daquilo sabes ser
A negar e não querer ver naquilo que te tornaste
Trais o destino da sorte daquilo que sempre sonhaste
Quando a força está inteira na razão e teu poder

É tempo de não empardecer

grito de silêncio

Queria apenas gritar o meu silêncio
Em trovas, baladas, tan tans de choro ou longos lamentos de quissange,
toadas embaladas nas estradas do vento que veste o meu corpo nú de pele arrancada pela tua fome demiurgo,
Sorver a cálida e húmida seiva das nascentes da pleroma que alimenta a minha alma que tomaste
Queria apenas mostrar-te qual sophia do meu querer quando me tenho,
do meu sentir quando me detenho
e te travo de mim
quando me (re)tenho apenas só no meu eu preenchido de mim
Vou voltar de novo para mim