boa noite mãe

Fui contigo filha

A filhota ontem (19) rumou para sul.
Está na Lua.
Chegou bem.
No aeroporto apeteceu-me correr para lá sem olhar para trás...
Esperamos na angústia da despedida calada com disfarce de conversa de circunstância com o tempo a acompanhar ali mesmo parado num gozo tranquilo da espera.
E ria. Ria descarado a ver-me saudosa feliz.
Mãe, não vou querer ver choradeiras…
Não filho, é tudo tão simples como se este hall fosse um enorme corredor com várias portas que se vão abrindo e fechando. Assim vamos entrando e saindo dos lugares vários da vida,
do mundo. Assim é o espaço. Assim é o tempo… assim o vejo desde sempre.
Olhei o fundo do corredor como que para o infinito. Disse ao filho que era ali que eu ia um dia encontrar o sul. Estava muito escuro. E baixei os olhos para esconder o pesadelo de muitos longos dias a percorrer o corredor sem conseguir encontrar a porta do sul. Como se a visse e a não conseguisse alcançar… como se premisse o botão do andar no elevador e ele nunca parasse no piso esperado.
E agora ali tão perto…
Foi quando disse resoluta com os olhos do filho presos aos meus a tentar segurar comigo o fardo para me aliviar do peso. Vou-me embora.
E penso que fui. Fui contigo filha. Hoje quando me ligaste não percebi sequer a distância. Estamos juntas.