Com Joaquim Pessoa

Dia 162.

Estou sempre à espera do inesperado. Assim, a dor não dói. Mesmo quando dou a mão a alguém e esse alguém a morde. Faço tudo para ser melhor que eu, ter uma vida intensa mesmo a dormir, separar o bom do bom e, com a parte que escolho, fazer melhor. Tudo é interessante, mesmo o que não é interessante, e o interesse está na descoberta. Temos que nos inadaptar à vida, vamos a isso, tentar cumprir as expectativas, mas não aquelas que esperávamos. Eu gosto disso. e isso conta. Meio irmão contra mim, mau irmão de mim, não consigo emendar um dia entre Janeiro e Dezembro. E ainda bem.
Esta coisa de ser mortal, de ser falível, é a minha afirmação e a minha doença. o que resta, são paliativos e a sua busca. Não sei mudar-me, não me quero mudar. Entre proscritos e idiotas, um proscrito. Odeio a subtileza dos idiotas. Falo sempre para mim quando falo com os outros. E dos outros não falo. Faço de conta. Para comermos todos juntos. Como iguais.

Joaquim Pessoa
Ano Comum