o teu ciclo - 9 do 12 a 9 do 12


Ficaste em nós assim devagarinho
Quando te foste embora tão de mansinho
 
E da onda gigante e forte, da tua grandeza
ficou a esteira de espuma macia e branca
A desfazer-se preguiçosamente no areal de pele das nossas vidas
Tatuando as marcas da tua viagem cumprida
 
Cumpriste o teu ciclo mãe
Assim tenho o costume de fazer questão de dizer
Do teu dia da chegada e da partida
 
E de novo o som da espuma a desfazer-se dolente
Na languidez da cadência do som quente do kissange
A esgueirar-se quase sem pedir licença pelos nossos ouvidos
E a abrir o salão das nossas almas sequiosas de alimento
 
Abriste outro ciclo mãe
E retemperastes as nossas vidas
Terei agora que fazer costume e ter de dizer
Nestes dias da tua estada e de partida
 
Agora que nos fizeste mensageiros nesta corrida da vida
Não te foste embora e ficaste mais em nós assim devagarinho
Para que se cumpra






 

dizes e eu entendo

MAR, ÉS TUDO ISTO E O MAIS QUE NÃO DIGO
Calmo como um bosque
forte como uma rocha
profundo como os sonhos;
violento como o Homem
fértil como o Amor
colorido como as cidades;
inconstante como o Tempo
rebelde como a Natureza.
Meio de união e causa de separação
fonte de Vida e cemitério de horrores;
dimensão de pensamento
eterno escultor.
Céu de muitos e Inferno de outros tantos
Ladrão de vidas e Vida de vidas
rotina de uns e medo de outros.
Origem do Futuro
Túmulo do Passado…

E mais não digo,
porque tu sabes de ti.

FC


Sinto o sabor do teu mar a ferver nas veias do labirinto do meu corpo
Sinto o fervor do teu mar, no impulso do desejo de querer-te
Sinto a acalmia do teu mar no doce toque do s(t)eu canto
Feita voz, cântico, balada, liturgia, encanto que me enternece,
Envolve, embala, devora, encanta, sossega e entorpece
 

Sinto a brandura do teu ser, num vulcão que me desassossega
e entrega a uma orgia de veludos de corpos e licores de seiva
Com odores de espanto e paz que me deleita
 
Sinto, sinto o sabor do teu mar a ferver-me nas veias

EC




ESCONDENDO A ALMA

Não quero que vejam a minha alma,
mesmo que só como fotografia.
Quero preservá-la dos olhos humanos;
se é que outros não a poderão ver.

Escondo-a, como Sol encoberto que não se vê
- mas se sente…
Basta que tenha de expor o meu corpo
e já grande parte de mim é conhecida;
porque, até ele, reflecte algo da alma
- como a Lua em quarto crescente.

Se um dia alguém me vir a alma
vou pedir-lhe que ma descreva;
porque eu não sei se tem a forma do meu corpo
ou é tão vasta como o Cosmos
que os meus olhos podem ver…

Ou não terá tal grandeza
e será tão finita como o meu corpo!
Mas sem forma visível?

FC

Far-me-ei Afrodite para descobri-la
Far-me-ei Atena  para possui-la
E não a revelarei se não a ti,
na grandeza justa da medida do sentir

E serás o cosmos

EC
10/2012

dizes e eu entendo

MAR

A espuma desfaz
a esmeralda das ondas
que rebentam mais calmas
no seu destino final.

Agora são azuis as águas
deste mar
que lava as minhas mágoas
e seca o meu chorar.

Revolta-se de seguida
e foge da praia em alvoroço.
Vai para longe…
Tão longe que não o ouço.

3 Maio 08

FC

Assim o vejo e te respondo

Pois era neste canto de mar que te ouvia
era neste brando ritmo que te sentia
Mar ledo mar sincero, alegre e triste,
Mar brando, mar eterno, assim te viste
Canto de um cante sereno e forte,
braço, ramo, rede, manto, ó mar meu hino

..............

meus ouvidos escutam para além da palavra
obrigada por me achares um porto

 8/2012
 EC

dizes e eu entendo



ESTE MAR…

São sete da tarde.
Ouço esta canção do mar,
com um refrão tão suave,
cantada por ondas
de ligeiras rugas e reflexos dourados.
Paro.
Só a ele quero escutar. 
                                              
29 Setembro 08
FC


Ouço-te no teu mar
Numa canção leda de outros tempos de amar
Escuto o refrão de memórias fortes
do travo amargo que queres apagar
e quedo-me no refrão suave do tom que lhes queres dar

Assim te escuto enleada e rendida
Na nova toada do tecido macio das ondas
Com novos reflexos fiados de um ouro renascido
Que decides fiar de novo e teimosamente
Por que acreditas que  estarei  aqui e sempre
Certa inteira e segura, na firmeza de te acompanhar

8 - 2012

EC

 CANTO A VIDA?

Canto a Vida,
mas sofro a dor.
Canto a Vida,
mas sem amor.
Canto a Vida:
por cantar
ou para viver? 

29 Setembro 08
FC 

E assim te acompanho

Desenho contornos num volteio
E mansamente me embalo e trauteio
No teu espaço de teu canto provida
Com o som com que na  busca da vida
Compuseste com amor
E onde já não habita a dor


Notas novas, versos e redondilhas
com  novos arranjos
Que soltas mansamente e dedilhas

E assim cantas a vida, enfim
para a cantar e para viver
na lira mágica que inventaste  de novo para mim


E assim te acompanho


8 - 2012
EC

dizes e eu entendo

DANÇA

Sons e mais sons
Canções e mais canções

Passos e requebros
Corpos em rodopio
Quase tangentes
Olhos algo cerrados
Sorrisos reprimidos
Pensamentos fixos
Conchego de desejos
Silêncios cúmplices
Vésperas de traição

Restos de coração
Vazio de emoções

FC

NOVA DANÇA

Escuto deleitada a cadencia dos sons
Encaixo nos requebros,
Sigo o impulso do fulgor do corpo
entro na dança e deixo-me embalar
no aconchego dos desejos de silêncios cúmplices.

Acompanho atenta e desperta
outros compassos de danças passadas,
na esperança de um colorir aquele chão de novos tons
que povoem novos pensamentos prenhes de futuro

que deixem para trás temores antigos,
restos de coração e vazios de emoções

EC
  

revivendo - na plenitude dos dias

como ontem, hoje e em todos os amanhãs...
NA PLENITUDE DOS DIAS (2012)
Ficam, o som de kissange a embebedar o ar
...
o odor forte do café em rodopios a penetrar as paredes
e a cobrir a pele num manto escuro e quente.
O som cristalino da voz pequenina a encher o ar
de borboletas coloridas matizadas do ouro
roubados dos fios do sol que se esgueiram pela vidraça.
O meu triângulo de força que arranquei do ventre
e cá fora abraçou o mundo e me dá a plenitude dos dias.
Ficam a conquista e a vitória da vida de cada segundo vivido
na certeza de que o dia é uma noite iluminada

NINA SIMONE-FEELING GOOD


17 de novembro


Porque és maior que qualquer universo,
possa assim um dia, o quente do sol do teu sorriso abarcar.
Meu caçula enorme, te saúdo.
Na brandura calorosa dos afetos, 
na fúria das tuas águas revoltas na conquista corajosa dos dias,
caminharei contigo enquanto possa, ao abrigo da tua força,
e da inocente madura pureza da tua verdade na construção do mundo. Caminharei assim enquanto me possas iluminar.
Segue então a tua jornada, com a tua sabedoria
Hoje quero-te só abraçar


Um resto de dia feliz

beijinho

Contos de Angola.


no 17 de novembro

Hoje, especial para o Jokas mas com o desejo que ainda possas sonhar com andorinhas...

Também eu tenho um "hobby": é viver
minuto após minuto a minha vida,
se possível do lado em que souber
que vale mais a pena ser vivida.
...
Já deixei de sonhar com andorinhas
e com o deus à venda nos prospetos.
Recuso-me a entrar em capelinhas
pois faço à transparência os meus projetos.
Sei bem que os incapazes me detestam
e nem os preguiçosos aguentam
comigo a funcionar a todo o gás.
Contudo, cada um vale o que vale.
Porquê ambicionar ser imortal
se nunca saberei se fui capaz?
Joaquim Pessoa, em "Sonetos Perversos"

o meu paraíso

Para cada sítio onde vá, onde estejam os meus filhos, vejo um paraíso. Fui ao Dubai e vi um Paraíso. Fui a Luanda e vi o Paraíso, agora Londres e de novo o Paraíso. Em resumo, o paraíso estará sempre onde estiverem os meus filhos. Ainda que não exista, eu construo. Só assim o posso entender. Assim, se me preguntarem onde está o paraíso eu irei responder: - O Paraíso está onde estiverem os meus filhos

28 de julho - meu triângulo de força

no equilíbrio perfeito
vocês fazem o caminho
assim vos vejo pertença do mundo
criando espaços, colorindo mundos...
alargando e inventado universos

assim me vejo povoando e revisitando mundos
calcorreando espaços e universos novos
criados, inventados, renovados, destinados.
no equilíbrio perfeito
um novo caminho
meu triângulo de força

nossas conquistas - no mercado de arroios - via vai - veio em maio e continua a bombar

Via Vai – no mercado de Arroios à sua espera o mestre André

Escolhidos os elementos

Tratava-se de os organizar
Pela simplicidade a escolha da matéria

Água sal farinha para lhe dar corpo e consistência
E os pequenos elementos que atuam no corpo
E criam as bolhas de gás carbónico que lhe fazem inchar
E crescer a alma onde lhe fica o efeito,
Na porosidade, sabor e aroma que lhe confere a identidade

Crescer e maturar na liberdade de um ambiente acolhedor
Temperatura e humidade relativa do espaço habitado
Espaço livre da cama onde repousa na espera das mãos sábias que lhe darão forma

A espessura, depois aliada aos sabores, no cunho da tradição
A arte engenho e mestria a marcar a diferença no efeito

Adicionados os ornamentos de apelos aos mais apurados sentidos
Com velados retoques de verdes segredos da grande arca da terra
Eis que pronto o significado de redobrado cuidado
pelas mãos hábeis segue elevado na grande pá
para o destino esperado,

O ventre ardente, onde a têmpera vai enfrentar o fogo
para o milagre da alquimia da matéria
no resultado da criação

Via Vai – em Arroios à sua espera o mestre André

nossas conversas - foi assim no 28 de abril e a propósito do tudo e do nada

A propósito da conversa doce do nosso sábado, queria dar-vos este miminho que em tempos publiquei no blogue.
Na altura enquanto vocês efusivamente punham no colo da mesa as vossas questões mais quentes, eu viajava pelas também minhas inquietações e veio-me à memória um recado que deixei em jeito de poesia aproveitando dois pilares para servirem de apoio, o neto e o ary.
falavam de identidade...
Aqui vos deixo os meus pensamentos com muito carinho que acho que cabem aqui.
...
também para os demais que acompanharam o doce momento, e aos ausentes para vos aguçar o apetite do proximo momento desta nossa passagem de testemunho
almas feitas cravos rubros em chamas de sul
Fiz-me nascida de dois pais, pares a par
hoje vista de maneira diferente,
mas mesmo assim com outros muitos olhos de mau ver.
Traziam consigo a natureza de mãe que me não pariu
mas vincaram-me o legado deste ser de mim.
Feita desta feita só hoje me reconheci
este mim que hoje faz ver-se com outro olhar.
Perguntaram-me ventos do sul de onde és
e os do norte o que és afinal
e a todos respondi o que o pai do norte me ensinou:
Não!"Não me digam mais nada senão morro
aqui neste lugar dentro de mim
a terra de onde venho é onde moro
o lugar de que sou é estar aqui...!"
assim com o verso do soneto presente que me alimentou me aquietei.
Eis então que os olhos e as bocas do sul se escancaram
e de esguelha me encurralavam perguntando
E quem és afinal? para onde vais? o que esperas tu?
e a todos respondi o que o pai do sul me ensinou, agora com o recado da alma de ventos do norte:
o que quereis vós, que alvíssaras vos hei-de dar?
"Não me peçam sorrisos ... as honras cabem aos generais...
...num novo catálogo, mostrar-te-ei o meu rosto
coroado de ramos de palmeira, e terei para ti os sorrisos que me pedes"
Assim feita de dois pais a par, ary e neto se colaram
em almas feitas cravos rubros em chamas de sul
deixando recados selados sagrados de almas gémeas
"...Aqui ninguém me diz quando me vendo
a não ser os que eu amo os que eu entendo
os que podem ser tanto como eu", pois é assim chegada a hora "...de juntos marcharmos corajosamente para o mundo de todos os homens"
Com excertos de poemas:Ary dos Santos e Agostinho Neto